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Uma resposta pacífica e persistente à injustiça

Há 32 anos a comunidade Bahá’í do Irão lançou-se num empreendimento notável. Tendo-lhe sido negado o acesso à educação formal, pelas autoridades do país, depois de numerosos apelos eles criaram um programa de educação, de nível superior, a partir de caves e salas de estar, espalhadas pelo país, com a ajuda de professores e académicos bahá´ís que tinham sido exonerados dos cargos, devido à sua fé. Gradualmente este programa começou a ser conhecido como BIHE (Instituto Bahá’í de Educação Superior).

Desde o seu lançamento o BIHE tem contribuído para a formação de milhares de pessoas, muitas das quais têm sido aceites em cerca de 100 universidades, em todo o mundo, para prosseguimento de estudos. Muitos licenciados BIHE, que completam os estudos de pós-graduação no estrangeiro, irão regressar ao Irão para servir as suas comunidades.

Graças ao avanço da tecnologia, os estudantes BIHE são agora ensinados por professores de todo o globo. Os que oferecem a sua competência e os seus conhecimentos para a educação da juventude bahá’í no Irão, têm testemunhado em primeira mão os elevados ideais e empenho dos estudantes na busca de conhecimento.

“A resposta Bahá’í à injustiça é: nem sucumbir à resignação nem tomar as características do opressor”, explicou Diane Ala´i, representante da Comunidade Internacional Bahá’í junto das Nações Unidas. em Geneve, citando uma carta da Casa Universal de Justiça. “Esta é a definição fundamental de resiliência construtiva” disse ela.

Apesar dos esforços das autoridades Iranianas para impedirem a operação BIHE, invadindo centenas de casas e escritórios relacionados com ela, confiscando materiais de estudo, prendendo e mantendo prisioneiros dúzias de professores, esta operação teve um considerável desenvolvimento nas últimas três décadas. Ela baseia-se numa variedade de pessoas experientes, dentro e fora do Irão, que possibilitam aos jovens estudarem um crescente número de tópicos em ciências, ciências sociais e artes. Acima de tudo, o BIHE não só sobreviveu trinta anos, ele cresceu.

Estudar no BIHE não é fácil. Como não é uma universidade pública não tem financiamento e muitos estudantes têm empregos full-time. É frequente atravessar o país para frequentar aulas mensais em Teerão. Por vezes os estudantes têm de mudar de uma casa num lado da cidade para outra, a meio do dia, porque estes são os únicos espaços disponíveis para aulas. Apesar dos desafios logísticos os estudantes atingem níveis académicos elevados.

“Conversei com estudantes BIHE que contaram que quando o professor foi detido e enviado para a prisão e todos os materiais de estudo confiscados, se reuniam da mesma maneira para a aula”, disse Saleem Vaillancourt, o diretor da campanha “Educação não é crime”, que chama a atenção para o facto de a educação ser negada aos bahá’ís no Irão.” Estes estudantes continuaram a estudar em conjunto, apesar de não terem professor. Apenas disseram “isso é o que temos de fazer”, porque estavam empenhados no processo.”

A educação universal é um princípio básico da Fé Bahá’í, e quando as autoridades do Irão procuraram negar este direito crítico e fundamental aos seus estudantes, a comunidade Bahá’í enveredou por uma solução pacífica – nunca desistir dos seus ideais, nunca se render ao opressor, e nunca se opor ao governo. Em vez disso, durante décadas, tem procurado soluções construtivas, um exemplo de resiliência duradoura.

No Irão a perseguição aos Bahá'ís é uma política oficial. Um memorando de 1991 aprovado pelo Supremo Líder Ayatollah Ali Khamenei afirma claramente que os bahá'ís devem ser expulsos das universidades, quer no processo de admissão quer durante os estudos, logo que se saiba que são bahá'ís.

Outras formas de perseguição atormentam igualmente os bahá'ís no Irão. Uma carta aberta da BIC ao Presidente do Irão, datada de 6 de Setembro de 2016, chama a atenção para a opressão económica que os bahá'ís enfrentam. A carta acentua a enorme contradição entre as declarações do governo do Irão no que toca a justiça económica, igualdade para todos, redução do desemprego por um lado e, por outro, os enormes esforços para empobrecer uma parte dos seus cidadãos.

“A comunidade Bahá’í no Irão não ia deixar-se cair tranquilamente no escuro. Não ia permitir ser sufocada deste modo” disse o Sr. Vaillancourt.

O que caracteriza fundamentalmente a atitude bahá’í perante a alteração social, é uma atitude de não confrontação perante a opressão. A resposta bahá'í à opressão baseia-se na convicção da unidade da humanidade. Reconhece a necessidade de coerência entre as dimensões espirituais e materiais da vida. Baseia-se numa perspetiva a longo prazo caracterizada pela fé, paciência e perseverança. Pede obediência imediata à lei e um compromisso de ir ao encontro do ódio e da perseguição com amor e bondade. No centro desta atitude, e em última análise, está o ênfase no serviço para o bem de todos os seres humanos como nós.

“Penso que no mundo atual vemos o colapso de comunidades que não teríamos pensado que pudesse acontecer tão facilmente. Compreendemos agora que viver lado a lado não é suficiente. Precisamos de viver juntos e conhecermo-nos uns aos outros, e a melhor maneira de nos conhecermos é começar a trabalhar para melhorar a sociedade” disse a Sra. Ala´i.

“À medida que os Bahá’ís no Irão começaram a fazer isto de modo mais consciente, outros iranianos vieram a conhecer os vizinhos bahá’ís e a compreender que muito do que tinham ouvido ao governo e ao clero sobre os bahá’ís eram mentiras. Na medida em que se envolveram mais na vida das comunidades em que vivem, os bahá’ís testemunharam uma enorme mudança na atitude dos outros iranianos para com eles.”

A resposta Bahá’í à opressão não é oposição e, em última análise, empenha-se em alcançar mais unidade. Enfatiza não apenas a ação coletiva mas também a transformação interior.

Esta estratégia é conscientemente empregada pela comunidade Bahá’í. Indo para além da tendência de reagir à opressão, à guerra, ao desastre natural com apatia e raiva, a sua resposta opõe a paciência à desumanidade, a verdade ao engano, a bondade à crueldade, e mantem-se atenta a uma ação produtiva e benéfica a longo prazo.

O Instituto Bahá'í de Educação Superior personifica todos estes elementos.

“O BIHE é uma realização extraordinária”, comentou o Sr. Vaillancourt. "Talvez seja a forma de responder à opressão com a forma pacífica menos conhecida, mais duradoura e com maior sucesso, que a história jamais tenha visto. Esta atitude bahá’í, em particular, constitui o melhor exemplo que eu conheça para responder à perseguição ou às forças desafiadoras do nosso tempo, em que tentamos ter uma atitude, uma postura e uma resposta de resiliência construtiva”

Fonte:Bahá'í World News Service

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